"A minha escrita vem do meu amor pelo teatro"
A maior estrela do argumento em Hollywood, Aaron Sorkin, não escreveu um biopic de Steve Jobs. Neste caso, criou uma série de atos em que vemos os bastidores das apresentações do criador da Apple. Um argumento que vive de uma força de diálogos que explora a habitual arte de Sorkin, uma fluência verbal em que tudo parece bater certo.
Um Steve Jobs imaginado mas com fundações sólidas na biografia de Walter Isaacson. Um projeto que a princípio tinha o apoio oficial da Apple mas que há umas semanas, quando foi mostrado no New York Film Festival, começou a ser criticado pela viúva de Jobs e pelo atual homem forte da Apple, Tim Cook.
Em Londres, Sorkin falou ao DN da sua inimitável maneira de escrever, do fascínio por Steve Jobs e do seu estatuto de argumentista star. Um génio que abriu o jogo neste encontro.
O segredo da sua grande arte de escrever diálogos passa pelo ritmo? O sorkinismo já ganhou uma catalogação de marca registada...
Sim, os meus diálogos pedem um ritmo aos atores, sim... Mas ainda não sei bem o que esta minha escrita tem de especial. Enfim, é o meu estilo de escrita e, garanto, não quero fazer nada de especial. É assim que escrevo, pronto.
[youtube:aEr6K1bwIVs]
Tem que ver com as suas raízes no teatro?
Sim, sinto-me muito confortável como dramaturgo e foi por aí que comecei na escrita para cinema e séries de televisão. Quando estava a crescer tornei-me um estudioso de peças de teatro. Ligava mais a teatro do que a filmes, apesar de ver muito cinema. A verdade é que não olhava para um filme da mesma maneira que olhava para uma peça. Aí sou muito diferente dos meus colegas argumentistas. Em vez de saber quem era o assistente de realização de Lawrence da Arábia, sabia quem era o segundo assistente do encenador de uma peça de 1926. Sim, posso dizer que a minha escrita vem do meu amor pelo teatro. Atenção, os meus pais levavam-me ao teatro desde os meus tempos de criança, mesmo para ver peças que não eram para a minha idade e que eu não percebia nada. Fui ver Quem Tem Medo de Virginia Woolf aos 9 anos! Adorei o som daqueles diálogos vindos de grandes atores, soava-me a música. A partir daí quis imitar aquele som. A maneira como as palavras soam é tão importante quanto o seu significado.
E como confere a musicalidade dos seus diálogos?
Represento todos os papéis que escrevo, quando estou a escrever leio--os em voz alta. É como uma pauta musical. Quando um ator está a ensaiar percebe se falhou uma palavra do meu argumento. A sério, é assim tão preciso. E eu também percebo quando falha uma palavra, tal como um músico percebe quando falha uma nota.